“A falta de visão nunca foi um obstáculo”. Como o Programa IMPULSO permite que Tomás continue a sonhar

Conquista após conquista, o jovem quer agora chegar aos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, tarefa que fica mais fácil com a atribuição recente de uma bolsa educação Jogos Santa Casa. Tomás tem no jornalismo e no goalball duas formas de ver o mundo.

O mundo de Tomás Delfim está-lhe nas mãos. É com elas que escreve sobre a forma como vê o tudo em seu redor, ou com que marca golos no goalball, uma modalidade desportiva adaptada. Aprendeu que o tato e a audição seriam armas importantes para fazer frente às adversidades. Tomás Delfim nasceu com uma má formação do nervo ótico no olho direito, que lhe causou um descolamento na retina. Aos quatro anos, acabaria por ficar sem visão depois de um retinoblastoma no olho esquerdo.

Hoje, não consegue lembrar-se detalhadamente de uma cara. A imagem que tem daqueles que o rodearam até aos quatro anos de idade vai-se perdendo. A visão, apesar de efémera, deu-lhe bases para conseguir imaginar. O pouco tempo que viu ajuda-o a orientar-se no tempo e no espaço. Tomás resgata memórias que lhe permitem sonhar: “Tenho imagens, cores e, basicamente, o que aparece nos meus sonhos é uma imaginação do que acho que são as coisas, juntando com aquilo que sei”, confessa.

Quem lê o perfil de Tomás na página da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS) pode pronunciar palavras que corroboram a perceção que o atleta paralímpico tem do mundo: “A falta da sua visão nunca foi um obstáculo no seu caminho, o que apenas o tornou mais determinado”, lê-se no referido canal. Foi na ESCS que o jovem encontrou um megafone para o mundo: o jornalismo.

No 12º ano, tal como milhares de alunos por todo o país, Tomás teve de dar um rumo à sua vida. Cedo percebeu que queria ingressar no ensino superior. O interesse pelo jornalismo começou no final do secundário, quando estava à procura de um curso adequado às suas necessidades. “Fui na onda de um amigo meu,  que também estava à procura de um curso ligado à comunicação e ao jornalismo, e percebi que era o que eu também gostava de fazer”, conta.

No jornalismo, é a rádio que mais lhe entusiasma, talvez porque desde muito novo aprendeu a usar a audição como a sua principal arma. “O que mais gosto no jornalismo é da área da rádio, tanto que integro o núcleo da ESCS FM, que me permite ganhar alguma experiência”. Tomás também tem um podcast com entrevistas no YouTube, onde aborda variados temas: desporto, jogos, rádio, televisão, entre outros.

Foi assim, entre Youtube e projetos escolares, que o jovem de Alhandra fintou a diferença. A caminhada no jornalismo prossegue também na ESCS Magazine, uma revista online feita por alunos, onde Tomás aproveita para “aperfeiçoar a escrita”. A paixão pelo desporto está patente em cada artigo redigido pelo jovem. Entre eles estão alguns sobre goalball, uma modalidade que bem conhece e que, normalmente, está fora dos holofotes dos média tradicionais.

 

Um apoio que permite continuar a sonhar

Tomás deu os primeiros remates no goalball quando ainda estava no primeiro ano da escola básica. Até então nunca tinha ouvido falar da modalidade. Certo dia decidiu experimentar e nunca mais a largou: “Gostei e percebi que era um desporto indicado para quem tem deficiência visual”, confessa.

O que começara como brincadeira, viria a tornar-se em algo sério.  Com 13 anos, o telemóvel de Tomás tocou. Do outro lado da linha estava um representante da equipa de goalball do Sporting CP com um convite para o jovem integrar a primeira equipa. Foi aí, na época 2014/2015, que deu o salto para uma carreira desportiva mais séria, numa altura em que representava a escola nos campeonatos juvenis.

Hoje, ainda a representar o Sporting CP, Tomás divide os dias entre os estudos e o desporto. O horário escolar permite-lhe conciliar tudo na perfeição, mas existem outros incentivos que fazem Tomás correr atrás dos seus objetivos. “Com esforço e organização tudo é exequível”, mas uma “ajudinha” extra, sobretudo monetária, é sempre bem-vinda. Desde outubro de 2019 que jovem atleta paralímpico é um dos bolseiros do Programa IMPULSO | Bolsas de Educação Jogos Santa Casa. O apoio dos Jogos Santa Casa torna todos os “processos mais fáceis”.

“Mais do que a ajuda financeira, a bolsa dos Jogos Santa Casa dá uma motivação extra, pois percebemos que há pessoal que está atento ao nosso trabalho e que nos dá apoio para que possamos chegar onde queremos. Isso é muito bom. Eu dou muito valor a isso”, revela o jovem que em 2022 viu renovado o apoio do Programa IMPULSO | Bolsas de Educação Jogos Santa Casa. Uma iniciativa que apoia de forma transversal, a formação de atletas olímpicos, paralímpicos e surdolímpicos, dando-lhes o suporte necessário para poderem conjugar a sua realidade desportiva com a educação.

Até na definição de objetivos desportivos a bolsa de educação atribuída pelos Jogos Santa Casa, em parceria com o Comité Paralímpico de Portugal, consegue ser uma “ótima ajuda”. Depois de “ter tido a honra” de ganhar vários campeonatos por equipas, tanto pela equipa A como pela equipa B, de “ter tido o orgulho e o prazer de representar Portugal lá fora” e de, em 2019, terem ganho o ouro, na Finlândia, nos Jogos da Juventude, Tomás aponta ainda o desejo de alcançar mais dois sonhos: ver renovado, ano após ano, o apoio dos Jogos Santa Casa e conquistar a presença nos Jogos Paralímpicos Paris 2024.

“A partir do momento em que percebemos que não era possível chegar a Tóquio o foco virou para o próximo objetivo, que é Paris 2024. Eu tenho bem presente que sou capaz de conseguir o que quero, porque tenho tudo. É só continuar a trabalhar. Paris está já aí e nós (equipa goalball de Portugal) somos perfeitamente capazes de chegar lá. É continuar a trabalhar e manter a confiança que as entidades envolvidas têm tido até agora. Na vida de um atleta tem de existir sempre um objetivo e, no meu caso, são esses dois”, confessa.

 

fotografias: FPDD/ ANDDVIS

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