Jogos Paralímpicos. A força de Carina Paim é o retrato da ambição portuguesa em Tóquio
Nos últimos dias, a vida de Carina Paim resume-se a um objetivo: representar bem Portugal nos Jogos Paralímpicos Tóquio 2020. É assim há três semanas. Têm sido dias duros, com treinos intensivos e pesquisa de estratégias que permitam minimizar o impacto do fuso horário do Japão no desempenho da atleta. Aos 22 anos, a especialista nos 400 metros corre para os Jogos Paralímpicos com objetivos repartidos por etapas: chegar à final, melhorar a marca pessoal e depois, quem sabe, conquistar uma medalha.
Tudo parece alcançável quando se fala de uma atleta campeã europeia em Berlim, bronze nos mundiais do Dubai, presença nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro e, agora, Tóquio. Não há segredo para isto. As conquistas de Carina fazem-se de trabalho diário, dedicação, sofrimento, de uma boa relação com o treinador, descanso e boa alimentação. Tudo faz parte, tudo é segredo.
Mas na preparação para Tóquio, a pandemia alterou muita coisa. Carina não parou de treinar, mas os treinos no exterior foram trocados pelos de interior, que é como quem diz, a pista de tartan foi substituída pela passadeira. Tudo diferente durante uma época atípica, mas o mais próximo possível da normalidade. “Foi uma época muito difícil. Não sei o que posso atingir, mas objetivos tenho sempre, claro”, realça.
Carina Paim é o rosto de uma comitiva de 33 atletas, de oito modalidades – atletismo, boccia, badminton, natação, ciclismo, judo, canoagem e equestre -, que vão competir nos Jogos Paralímpicos 2020 entre os dias 24 de agosto e 5 de setembro. Portugal chega a Tóquio com um grupo renovado quando comparado com os Jogos do Rio 2016 – 17 atletas vão estar pela primeira vez em Jogos Paralímpicos. Mas há mais. Portugal vai fazer a estreia nas modalidades de badminton e canoagem, com Norberto Mourão e Alex Santos (canoagem) e Beatriz Monteiro (badminton). Noa Japão, a comitiva portuguesa procura superar os resultados obtidos em 2016, nomeadamente de quatro medalhas de bronze, conquistadas no boccia e no atletismo.
Em Tóquio, tal como no Rio de Janeiro, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, através dos Jogos Santa Casa, volta a estar lado a lado do movimento paralímpico nacional, na qualidade de patrocinador principal do Comité Paralímpico de Portugal.
Desde 2012 que os Jogos Santa Casa prosseguem uma estratégia de patrocínios focada no apoio ao desporto nacional, ao talento desportivo e aos grandes eventos desportivos nacionais, transformando os apoios concedidos e as parcerias realizadas em ferramentas de integração e coesão social.
A ginasta que brilha nas pistas de atletismo
Carina Paim começou a competir no atletismo em 2016. Nesse mesmo ano marcou presença nos Jogos Paralímpicos do Rio, mas as coisas não correram como planeado. “Não correu muito bem porque fui última e não consegui sequer chegar à final”, lembra. A menina que até então vivia para a ginástica nunca pensou que os bons desempenhos no atletismo escolar abririam portas para competir ao mais alto nível. “Nas aulas de educação física e nas provas do desporto escolar, uma treinadora aconselhou-me a experimentar o atletismo de alta competição, e lá fui”, revela Carina, que, até à mudança para a capital, conciliou ginástica e atletismo durante dois anos.
Em 2017, surgiu a hipótese de sair de Viseu e vir para Lisboa, para o Centro de Alto Rendimento do Jamor. O passo foi dado com um pouco de medo, mas, “até ao momento, correu muito bem”. A mudança para Lisboa marca também o fim de uma carreira na ginástica, que começou aos 9 anos de idade e que acabou aos 16, com um currículo composto por presenças em campeonatos nacionais, distritais e regionais de jovens.
Na mudança para Lisboa, a atleta do Sporting CP encontrou uma nova treinadora, novos treinos, novos colegas. Muita coisa aconteceu a uma velocidade que nem sempre Carina conseguiu acompanhar. Mas, como diz o ditado, “quem muda, Deus ajuda” e Carina é prova disso. O momento alto de uma ainda curta carreira acabaria por chegar. Em 2018, em Berlim, a atleta “tocou o céu”. Foi um ano de viragem. “Eu estava em baixo e vim cá para cima. O facto de ter tido essas mudanças todas e depois ter atingido isto em Berlim foi uma grande surpresa. Não sei quando é que voltarei a ter um ano como este”, refere.
“A bolsa Jogos Santa Casa facilitou-me imenso a vida”
Escola, treinos e competições. Os dias de Carina fazem-se assim. Em 2021, com muito esforço, conseguiu concluir o ensino secundário na área de desporto. Atingir este objetivo revelou-se, desde cedo, um desafio: “demorei muito tempo a concluir o secundário, pois, com o atletismo pelo meio, é muito difícil arranjar tempo para estudar. Acho que se não fosse a bolsa ainda tinha demorado mais um bocado a terminar o secundário. A bolsa Jogos Santa Casa facilitou-me imenso a vida”.
Encontrou nas Bolsas de Educação Jogos Santa Casa um incentivo para não desistir. Mas Carina é apenas uma de cinco atletas bolseiros que vão marcar presença nos Jogos Paralímpicos Tóquio 2020. Este apoio da Misericórdia de Lisboa, em parceria com o Comité Olímpico e o Comité Paralímpico, chega, pelo oitavo ano consecutivo, a atletas em preparação para os jogos olímpicos, paralímpicos e surdolímpicos, que conciliam a atividade académica com a carreira desportiva.
Depois de dois anos como bolseira, Carina ainda não sabe se voltará a usufruir deste apoio. Certo é que pretende dar continuidade aos estudos, mas numa área completamente diferente do desporto: decoração de interiores. O interesse pelo design das coisas desde cedo que a apaixonou, mas a pandemia intensificou este amor pela decoração. “Já há muito tempo que gostava de decoração, mas com a pandemia, durante este tempo todo que ficámos em casa, eu percebi que é uma área na qual quero ingressar”. Mas, como a própria diz, “não é altura para pensar no futuro”. Os primeiros passos nessa área serão dados assim que regressar de Tóquio. Até lá, o foco está, apenas e só, em representar bem a bandeira portuguesa nos Jogos Paralímpicos Tóquio 2020.
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